Resenha - Libertinagem

quarta-feira, maio 16, 2018


Libertinagem é um livro de poesias de Manuel Bandeira, publicado em 1930 e que revela a procura e o alcance do autor de se "libertar" através da lírica modernista.

Título: Libertinagem
Autor: Manuel Bandeira
Ano: 1930
Nº de páginas: Aproximadamente 50.
Editora: Lido em formato mobi.
Avaliação: ★★★★★
Sinopse: Nesta obra, a poesia de Manuel Bandeira, afastando-se de suas origens pós-simbolistas, alcança a maturidade definitivamente pessoal, através de um lirismo ao mesmo tempo moderno e profundo.


Manuel Bandeira se descobriu tuberculoso aos 16 anos, desde então, ele esperava pela morte todos os dias, e essa espera lhe acompanhou por toda a sua trajetória até os 82 anos.

O começo de sua produção poética ainda era pré-modernista, pois se prendia a movimentos anteriores, como o simbolismo e a segunda fase do romantismo brasileiro, mas logo ele migrou de vez para o modernismo, desejando romper todos os padrões e fazer parte da vanguarda, como ele deixa claro no poema "Poética":

Poética
Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja
fora de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante
exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes
maneiras de agradar às mulheres, etc
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare

- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.
Em Libertinagem, todos os poemas são modernistas e buscam se "libertar", como o próprio título da obra sugere. Chega de rimas, de métricas e de formas. Manuel Bandeira faz poemas sobre Recife (sua cidade natal), sobre Belém, personagens nordestinos, relacionamentos e sobre a vida de um jeito inovador, libertando-se de quaisquer parâmetros.

Claro que não posso deixar de citar o maravilhoso poema "Vou-me embora pra Pasárgada", que também está na obra:

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada. 
O autor não estava na Semana de Arte Moderna em 1922, pois ele previa que falariam mal dos parnasianos, e ele cresceu lendo Olavo Bilac. Logo, ele achou que seria mais respeitoso não comparecer, por mais que sua poesia tenha sido lida no evento. 

Libertinagem é a demonstração mais clara e simples do que foi o Modernismo na poesia brasileira. 

E você, já leu Libertinagem? Ouviu falar? Conhece Manuel Bandeira ou alguma obra do autor? Comenta aí!

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