Resenha - Clara dos Anjos

quarta-feira, abril 04, 2018

Clara dos Anjos foi escrito em 1922, no mesmo ano da morte do autor Lima Barreto. A publicação foi apenas em 1948. A obra foi parte do movimento pré-modernista.

Título: Clara dos Anjos
Autor: Lima Barreto
Ano: 1948
Nº de páginas: 304
Editora: *Lido em ebook kindle.
Avaliação: ★★★★
Sinopse:'Clara dos Anjos' narra as desventuras de uma adolescente pobre e mulata do subúrbio carioca prestes a iniciar a sua vida sexual com um malandro branco de classe média. Esta reedição do romance inacabado do autor é acrescido de textos críticos de Sergio Buarque de Holanda, Lúcia Miguel Pereira e Beatriz Resende, bem como o aparato de notas explicativas. Através de conexões biográficas com personagens da história de Clara e Cassi Jones, um dos protótipos literários da malandragem suburbana, estes buscam revelar as opiniões de Lima Barreto acerca de si mesmo e da sociedade brasileira.
Clara dos Anjos conta a triste história de Clara, uma garota mulata e pobre do Subúrbio do Rio de Janeiro que foi mais uma vítima da sociopatia de Cassi Jones.

Cassi era loiro, branco, parecia um europeu. Seu talento com o violão e com as modinhas nem é tão grande, mas só pelo fato de ele saber alguns acordes e algumas letras, já chamava a atenção das mulheres. Ele era um grande paquerador, ficava com as novas, com as adultas e com as casadas. As conquistava, conseguia ter intimidades com elas e depois as abandonava, geralmente grávidas.

Além disso, Cassi também causava divórcios, homicídios e vários tipos de traumas. Ele não pagava por nenhum desses crimes porque escolhia mulatas sem dinheiro e estudos. Sua mãe, Salustiana, o defendia, e quando as mães iam à polícia com suas filhas abandonadas por Cassi, o delegado exigia um advogado. As vítimas não tinham dinheiro para pagar um profissional do direito, e nem como conseguir um. Logo, Cassi saía impune.

A família de Clara, inclusive seu padrinho Marrameque, tentaram alertá-la sobre Cassi, mas ela era uma garota muito protegida, saia de casa duas vezes na semana, acompanhada de sua tia Margarida. Tinha curiosidades sobre o mundo fora de casa, sobre a vida de jovens comuns e, claro, sobre o amor e toda a liberdade que um casamento poderia aparentemente lhe proporcionar. Tudo isso fez com que ela tivesse muito interesse em Cassi Jones.

Sobre o retrato do meio que se passa no Subúrbio do Rio de Janeiro, assim como em "O Cortiço", de Aluísio Azevedo, Lima Barreto acaba tornando o subúrbio um personagem. Ele é a base cultural que rege aqueles moradores, é a representação do conjunto dos costumes dos personagens cariocas da época. O grupo social formava o subúrbio, e o subúrbio formava o grupo social.

Sobre a cultura da poesia e da música popular, a cultura é retratada na obra é a das modinhas, músicas tocadas no violão de um jeito autenticamente carioca. As pessoas se reuniam em festas e  em praças para tocar. A cultura social era extremamente machista. As mulheres casadas e suas filhas ficavam em casa o dia todo, saiam poucas vezes na semana. Estudavam música em casa, aprendiam a cozinhar e a costurar, ou seja, eram ensinadas a serem donas de casa. Tais costumes eram passados de geração em geração, dando continuidade à personalidade do subúrbio.

A moral da obra é que você deve escutar os seus familiares. Não prender os filhos em casa e não acreditar que as autoridades sempre farão justiça, pois alguns são mais favorecidos e outros são menos, tudo dependerá de uma classe social.

O Naturalismo no livro se dá pela teoria determinista: a raça, o meio e o momento histórico influenciam no comportamento dos personagens. O Realismo, por sua vez, aparece como uma crítica aos feitios do Cassi e as injustiças que as pessoas de classes sociais mais baixas sofrem na sociedade. O amor que nunca existiu e o final terrível são características que tornam a obra realista.

Diferentemente de Monteiro Lobato, que também era um autor pré-modernista, Lima Barreto não escreve uma obra racista, pois sua própria mãe era negra e morreu quando ele tinha 7 anos, ou seja, ele fez parte da realidade injusta que o negros enfrentaram. Monteiro, por sua vez, em O Presidente Negro, é inegavelmente racista, pois ele já era preconceituoso com caboclos, mulatos e negros, sendo influenciado por grande parte da população brasileira da época, que era muito preconceituosa.

E você, já leu Clara dos Anjos? É uma obra bastante presente nos vestibulares. Comenta aí!

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