Resenha - Obra Poética de Fernando Pessoa Vol. 2 + 15 poemas preferidos

quarta-feira, janeiro 10, 2018


No segundo volume da Obra Poética de Fernando Pessoa, nós temos os poemas de Alberto Caeiro, Ricardo Reis, Álvaro de Campos, poemas em outros idiomas e traduções.

Título: Obra Poética de Fernando Pessoa
Volume: 2
Autor: Fernando Pessoa e heterônimos
Ano: 2016
Nº de páginas: 415
Editora: Nova Fronteira
Avaliação: ★★★★★
Sinopse: A vasta produção de Fernando Pessoa, um dos mais célebres poetas em língua portuguesa, ganha uma nova edição pela Nova Fronteira, dividida em dois volumes contidos em boxe de luxo. A obra contempla os poemas escritos por Pessoa como ele mesmo e como outros poetas que criou, seus famosos heterônimos Alberto Caeiro, Recardo Reis e Álvaro de Campos, além da produção poética do autor em língua estrangeira e de algumas de suas traduções.

Minha última leitura de 2017 não poderia ter sido mais especial. Como vocês puderam ver na resenha do Volume 1 desse box maravilhoso, eu simplesmente amo os poemas de Fernando Pessoa e, se fosse possível, eu estamparia uma boa parte deles pelo meu corpo (spoiler de algum plano para o futuro? Talvez!). Foi a primeira vez que tive um contato maior com os poemas do Ricardo Reis, pois na faculdade focamos mais em Álvaro de Campos e Alberto Caeiro, dois que também aparecem no segundo volume.


Em primeiro lugar, temos o texto "Outros eus", de Fernando Pessoa, no qual ele alega que nunca fingiu nada para dar vida aos seus heterónimos, eles de fato, eram. Mais uma vez sustento a minha teoria de que Fernando Pessoa era tipo o protagonista do filme "O Fragmentado", e realmente tinha mais de uma personalidade.

Logo em seguida, começa "O Guardador de Rebanhos", a obra de Alberto Caeiro. Esse heterónimo é o mais especial de todos, afinal, ele é considerado o mestre, sendo Álvaro de Campos e Ricardo Reis, os seus discípulos. Mas o que Alberto Caeiro tem que os outros admiram tanto e desejam aprender com ele? Bem, Alberto Caeiro é tido como o "poeta do não pensar", ele não pensava sobre as coisas, ele apenas as sentia, logo, ele não sofria como os outros, e isso é o ápice da evolução poética. Consegue imaginar? Um poeta que não retrata em seus poemas o seu sofrimento interno? Para Alberto Caeiro, "pensar é estar doente dos olhos", para ele, pensar é o problema da humanidade.

Depois, temos "O Pastor Amoroso", que também faz parte da obra de Alberto Caeiro, na qual ele se demonstra um pouco mais sentimental. Temos "Poemas Inconjuntos", de Fernando Pessoa. Seguindo, temos as "Odes de Ricardo Reis", um dos heterónimos que mais conseguia se aproximar do mestre Alberto Caeiro. Ricardo Reis era médico e extremamente culto, retratava a mitologia grega, acreditava nos deuses mitológicos e era totalmente pagão. Temos as "Poesias de Álvaro de Campos", na segunda e na terceira fase (fetiche pelas máquinas e cansaço/sono).

Alberto Caeiro é descrito por Álvaro de Campos e, Álvaro de Campos é descrito por Ricardo Reis. O fato de um heterônimo descrever o outro, citarem uns aos outros, citarem Fernando Pessoa (normalmente para criticá-lo, hahaha), eu acho simplesmente fantástico. Ele era relamente um gênio.



A seguir, vêm os poemas em inglês e em francês. Consegui absorver algo dos poemas em inglês, por mais que em alguns sonetos o vocabulário seja extremamente sofisticado, me causando muita dificuldade. Os em francês eu sequer tentei ler, afinal, não sei NADA de francês. 

Por fim, temos as traduções de Fernando Pessoa. Ele traduziu alguns poemas de Edgar Allan Poe e de outros poetas europeus bastante famosos, todos foram inseridos nesse livro e eu achei incrível.


Nas últimas páginas, temos a autobiografia de Fernando Pessoa. Ele mesmo datilografou algumas informações sobre si mesmo, e isso também foi colocado no livro.


Sobre o Box da Editora Nova Fronteira: É simples, mas lindo. As edições são lindas e muito completas. Confesso que gostei mais do volume 2 e, não sei dizer se era porque Alberto Caeiro finalmente apareceu (hahaha), mas achei o segundo volume mais bem organizado, indicou os autores, trouxe mais material... Enfim, o box como um todo é maravilhoso e vale muito a pena! Veja mais imagens do box na resenha do Volume 1.


Agora, vamos à parte mais difícil! A escolha dos 15 poemas preferidos desse volume. Assim como no primeiro, eu fiz muuuitas marcações. Chegaram a perguntar se a cada 10, eu marcava 9 (adorei!), mas não, eu consegui escolher 15. Não posso dizer que são os MELHORES poemas do livro, afinal, eu marquei muitos e gostei de verdade de muitos. Essa escolha é pessoal, não consenso com vários leitores nem nada do gênero. Enfim, vamos lá, espero que gostem:

XXIV (Alberto Caeiro)

O que nós vemos das coisas são as coisas.
Por que veríamos nós uma coisa se houvesse outra?
Por que é que ver e ouvir seria iludirmo-nos
Se ver e ouvir são ver e ouvor?

O essencial é saber ver.
Saber ver sem estar a pensar,
Saber ver quando se vê,
Nem ver quando se pensa.

Mais isso (tristes de nós que trazemos a alma vestida!),
Isso exige um estudo profundo,
Uma aprendizagem de desaprender,
E uma sequestração na liberdade daquele convento
De que os poemas dizem que as estrelas são as freiras eternas
E as flores as penitentes convictas de um só dia,
Mas onde afinal as estrelas não são senão estrelas
Nem as flores senão flores,
Sendo por isso que lhes chamamos estrelas e flores.

(p. 45)

XXVI (Alberto Caeiro)

Às vezes, em dias de luz perfeita e exata,
Em que as coiisas têm toda a realidade que podem ter,
Pergunto a mim próprio devagar
Por que sequer atribuo eu
Beleza às coisas.

Uma flor acaso tem beleza?
Tem beleza acaso um frut
Não: têm cor e forma
E existência apenas.
A beleza é o nome de qualquer coisa que não existe
Que eu dou às coisas em troca do agrado que me dão.
Não significa nada.
Então por que digo eu das coisas: são belas?

Sim, mesmo a mim, que vivo só de viver,
Invisíveis, vêm ter comigo as mentiras dos homens
Perante as coisas,
Perantes as coisas que simplesmente existem.

Que difícil ser próprio e não ver senão o visível!

(p. 46)

XL (Alberto Caeiro)

Passa uma borboleta por diante de mim
E pela primeira vez no Universo eu reparo
Que as borboletas não têm cor nem movimento,
Assim como as flores não têm perfume nem cor.
A cor é que tem cor nas asas da borboleta,
No movimento da borboleta o movimento é que se mova,
O perfume é que tem perfume no perfume da flor.
A borboleta é apenas borboleta
E a flor é apenas flor.

(p. 55)

XLVII (Alberto Caeiro)

Num dia excessivamente nítido,
Dia em que dava a vontade de ter trabalhado muito
Para nele não trabalhar nada,
Entrevi, como uma estrada por entre as árvores,
O que talvez seja o Grande Segredo,
Aquele Grande Mistério de que os poetas falsos falam.

Vi que não há Natureza,
Que Natureza não existe,
Que já montes, vales, planícies,
Que há árvores, flores, ervas,
Que há rios e pedras,
Mas que não há um todo a que isso pertença
Que um conjunto real e verdadeiro
É uma doença das nossas ideias.
A Natureza é partes sem um todo.
Isto é talvez o mistério de que falam.

Foi iso o que sem pensar nem parar,
Acertei que devia ser a verdade
Que todos andam a achar e que não acham,
E que só eu, porque a não fui achar, achei.

(p. 59)

7-11-1915

Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.

Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma.

Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.

Pode rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que foi, quando for, é que será o que é.

(p. 73)

19-6-1914 (Ricardo Reis)

Sábio é o que se contenta com o espetáculo do mundo,
E ao beber nem recorda
Que já bebeu na vida,
Para quem tudo é novo
E imarscecível sempre.

Coroem-no pâmpanos, ou heras, ou rosas volúteis,
Ele sabe que a vida
Passa por ele e tanto
Corta à flor como a ele
De Átropos a tesoura.

Mas ele sabe fazer que a cor do vinho esconda isto,
Que o seu sabor orgíaco
Apague o gosto às horas
Como a uma voz chorando
O passar das bacantes.

E ele espera, contente quase e bebedor tranquilo,
E apenas desejando
Num desejo mal tido
Que a abominável onda
O não molhe tão cedo.

(p. 101)

30-7-1914 (Ricardo Reis)

Cada coisa a seu tempo tem seu tempo.
Não florescem no inverno os arvoredos,
Nem pela primavera
Têm branco frio os campos.

À noite que entra, não pertence, Lídia,
O mesmo ardor que o dia nos pedia.
Com mais sossego amemos
A nossa incerta vida.

À lareira, cansados não da obra
Mas porque a hora é a hora dos cansaços,
Não puxemos a voz
Acima de um segredo,

E casuais, interrompidas sejam
Nossas palavras de reminiscência
(Não para mais nos serve
A negra ida do sol).

Pouco a pouco o passado recordemos
E as histórias contadas no passado
Agora duas vezes
Histórias, que nos falem

Das flores que na nossa infância ida
Com outra consciência nós colhíamos
E sob uma outra espécie
De olhar lançado ao mundo.

E assim, Lídia, à lareira, como estando,
Deuses lares, ali na eternidade,
Como quem compõe roupas
O outrora compúnhamos

Nesse desassossego que o descanso
Nos traz às vidas quando só pensamos
Naquilo que já fomos,
E há só noite lá fora.

(p. 103-104)

1-7-1916 (Ricardo Reis)

Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.

A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos
Só nós somos sempre
Iguais a nós próprios.

Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.

Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode 
Dizer-te. A resposta
Está além dos deuses.

Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.

(p. 116-117)

26-5-1930 (Ricardo Reis)

Se recordo quem fui, outrem me vejo,
E o passado é o presente na lembrança.
Quem fui é alguém que amo
Porém somente em sonho.
E a saudade que me aflige a mente
Não é de mim nem do passado visto,
Senão de quem habito
Por trás dos olhos cegos.
Nada, senão o instante, me conhece.
Minha mesma lembrança é nada, e sinto
Que quem sou e quem fui
São sonhos diferentes.

(p. 135)

19-1-1930 (Ricardo Reis)

Nunca a alheia vontade, inda que grata,
Cumpras por própria. Manda no que fazes,
Nem de ti mesmo servo.
Ninguém te dá quem és. Nada te mude.
Teu íntimo destino involuntário
Cumpre alto. Sê teu filho.

(p. 138)

26-4-1926 (Álvaro de Campos) 
*ATENÇÃO: não leia se estiver passando por crises existenciais. (Sério!!!)

Se te queres matar, por que não te queres matar?
Ah, aproveita! que eu, que tanto amo a morte e a vida,
Se ousasse matar-me, também me mataria...
Ah, se ousares, ousa!
De que te serve o quadro sucessivo das imagens externas
A que chamamos o mundo?
A cinematografia das horas representadas
Por atores de convenções e poses determinadas,
O circo policromo do nosso dinamismo sem fim?
De que te serve o teu mundo interior que desconheces?
Talvez, matando-te, o conheças finalmente...
Talvez, acabando, comeces...
E, de qualquer forma, se te cansa seres,
Ah, cansa-te nobremente,
E não cantes, como eu, a vida por bebedeira,
Não saúdes como eu a morte em literatura!

Fazes falta? Ó sombra fútil chamada gente!
Ninguém faz falta; não fazes falta a ninguém...
Sem ti correrá tudo sem si.
Talvez seja pior para outros existires que matares-te...
Talvez peses mais durando, que deixando de durar...

A mágoa dos outros?... Tens remorso adiantado
De que te chorem?
Decansa: pouco te chorarão...

O impulso vital apaga as lágrimas pouco a pouco,
Quando não são de coisas nossas,
Quando são do que acontece aos outros, sobretudo a morte,
Porque é a coisa depois da qual nada acontece aos outros...

Primeiro é a angústia, a surpresa da vinda
Do mistério e da falta da tua vida falada...
Depois o horror do caixão visível e material,
E os homens de preto que exercem a profissão de estar ali.
Depois a família a velar, inconsolável e contando anedotas,
Lamentando a pena de teres morrido,
E tu mera causa ocasional daquela carpidação,
Tu verdadeiramente morto, muito mais morto que calculas...
Muito mais morto aqui que calculas,
Mesmo que estejas muito mais vivo além...
Depois a trágica retirada para o jazigo ou a cova,
E depois o princípio da morte da tua memória.
Há primeiro em todos um alívio
Da tragédia um pouco maçadora de teres morrido...
Depois a conversa aligeira-se quotidianamente,
E a vida de todos os dias retoma o seu dia...

Depois, lentamente, esqueceste.
Só és lembrado em duas datas, aniversariamente:
Quando faz anos que nasceste, quando faz anos que morreste.
Mais nada, mais nada, absolutamente mais nada.
Duas vezes no ano pensam em ti.
Duas vezes no ano suspiram por ti os que te amaram,
E uma ou outra vez suspiram se por acaso se fala em ti.

Encara-te a frio, e encara a frio o que somos...
Se queres matar-te, mata-te...
Não tenhas escrúpulos morais, receios de inteligência!...
Que escrúpulos ou receios tem a mecânica da vida?

Que escrúpulos químicos tem o impulso que gera
As seivas, e a circulação do sangue, e o amor?
Que memória dos outros tem o ritmo alegre da vida?
Ah, pobre vaidade de carne e osso chamada homem,
Não vês que não tem importância absolutamente nenhuma?

És importante para ti, porque é a ti que te sentes.
És tudo para ti, porque para ti és o universo,
E o próprio universo e os outros
Satélites da tua subjetividade objetiva.
És importante para ti porque só tu és importante para ti.
E se és assim, ó mito, não serão os outros assim?

Tens, como Hamlet, o pavor do desconhecido?
Mas o que é conhecid O que é que tu conheces,
Para que chames desconhecido a qualquer coisa em especial?

Tens, como Falstaff, o amor gorduroso da vida?
Se assim a amas materialmente, ama-a ainda mais materialmente:
Torna-te parte carnal da terra e das coisas!
Dispersa-te, sistema físico-químico
De células noturnamente conscientes
Pela noturna consciência da inconsciência dos corpos,
Pelo grande cobertor não-cobrindo-nada das aparências,
Pela relva e a erva da proliferação dos seres,
Pela névoa atômica das coisas,
Pelas paredes turbilhonantes
Do vácuo dinâmico do mundo...

(p. 236-238)

Bicarbonato de Soda (Álvaro de Campos)

Súbita, uma angústia..
Ah, que angústia, que náusea do estômago à alma!
Que amigos que tenho tido!
Que vazias de tudo as cidades que tenho percorrido!
Que esterco metafísico os meus propósitos todos!

Uma angústia,
Uma desconsolação da epiderme da alma,
Um deixar cair os braços ao sol-pôr do esforço...
Renego.
Renego tudo.
Renego mais do que tudo.
Renego a gládio e fim todos os Deuses e a negação deles.
Mas o que é que me falta, que o sinto faltar-me no estômago e na circulação do sangu
Que atordoamento vazio me asfalfa no cérebro?

Devo tomar qualquer coisa ou suicidar-me?
Não: vou existir. Arre! Vou existir.
E-xis-tir...
E--xis--tir...

Meus Deus! Que budismo me esfria no sangue!
Renunciar de portas todas abertas,
Perante a paisagem todas as paisagens,
Sem esperança, em liberdade,
Sem nexo,
Acidente da inconsequência da superfície das coisas,
Monótono mas dorminhoco,
E que brisas quando as portas e as janelas estão todas abertas!
Que verão agradável dos outros!

Deem-me de beber, que não tenho sede!

(p. 268)

11-8-1934 (Álvaro de Campos)

Depus a máscara e vi-me ao espelho -
Era a criança de há quantos anos.
Não tinha mudado nada...
É essa a vantagem de saber tirar a máscara.
É-se sempre a criança,
O passado que foi
A criança.
Depus a máscara, e tornei a pô-la.
Assim é melhor.
Assim sem a máscara.
E volto à normalidade como a um términus de linha.

(p. 285)

21-10-1935 (Álvaro de Campos)

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras, 
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente,
Ridículas.)

(p. 295)

- (Álvaro de Campos)

Não, não é cansaço...
É uma quantidade de desilusão
Que se me estranha na espécie de pensar,
É um domingo às avessas
Do sentimento,
Um feriado passado no abismo...

Não, cansaço não é...
É eu estar existindo
E também o mundo,
Com tudo aquilo que contém,
Com tudo aquilo que nele se desdobra
E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais.

Não. Cansaço por quê?
É uma sensação abstrata
Da vida concreta -
Qualquer coisa como um grito
Por dar,
Qualquer coisa como uma angústia
Por sofrer,
Ou por sofrer completamente,
Ou por sofrer como...
Isso mesmo, como...

Como quê?...
Se soubesse, não haveria em mim este falso cansaço.

(Ai, cegos que cantam na rua,
Que formidável realejo
Que é a guitarra de mim, e a viola do outro, e a voz dela!)
Porque ouço, vejo.
Confesso: é cansaço!...

(p. 308)

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2 comentários

  1. Oi, tudo bom?
    Adorei seu blog, parabéns pelo trabalho!
    Já segui, sucesso.
    www.freakandcreepy.com

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    1. Oi! Obrigadaaa <3
      Vou dar uma olhadinha no seu e seguir lá *-*

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