Resenha - The Wife of Bath's Prologue and Tale (The Canterbury Tales)

domingo, setembro 17, 2017


“The Wife of Bath’s” é um dos contos mais fortes do livro “The Canterbury Tales” (Os contos da Cantuária), de Chaucer. Com o título de “A Mulher de Bath” em português, esse é o conto narrado pela mulher de Bath (obviamente). O nome dela é Alice e, antes de continuar lendo essa resenha, leia a resenha do Prólogo do livro (clique aqui) e do conto “O Moleiro” (clique aqui), para entender mais sobre o contexto da obra e porque ela é tão incrível.


A mulher de Bath é totalmente desinibida para uma mulher que vive na Idade Média, sob as asas do machismo cristão. Já teve diversos maridos e nunca deixou de agir quando algum deles tentava agredi-la verbal e fisicamente, a traía e tentava limitar a vida dela, porque o grande lema dessa mulher maravilhosa, era que ela pudesse fazer o que quisesse e quando quisesse, sem precisar da permissão do marido.

Mesmo parecendo meio promíscua, a mulher de Bath nada mais faz do que ser sincera o tempo todo, dessa forma, ela fala de seus desejos, do que ela espera de um homem, de como foi sua vida íntima com seus maridos e não dá a mínima para a opinião dos homens que estão ouvindo. Durante o prólogo, ela até diz algo que eu achei extremamente interessante incluir nessa resenha:

Você diz que um nos quer por nossas riquezas, outro por nosso talhe, outro por nossa formosura, outro porque sabemos cantar ou dançar, outro porque somos graciosas ou provocantes, outro por causa dos braços e das mãos pequenas... na sua opinião, vamos todas para o diabo! Diz você que ninguém defende os muros do castelo quando o cerco é geral e demorado. E, quando a mulher é feia, você acha que se entrega ao primeiro em que puser os olhos, saltando sobre ele como um cachorrinho doido para encontrar alguém que o compre. De acordo com você, não há gansa no lago, por mais cinzenta que seja, que dispense um companheiro; mas, por outro lado, é difícil para um homem manter uma coisa que ninguém faz questão de possuir. É o que você diz, vagabundo, quando vai para a cama. E mais: que um homem inteligente não tem necessidade de casar-se, principalmente se pretende entrar no Céu... Que o raio enfurecido e o relâmpago de fogo lhe partam o pescoço murcho! Você diz que a goteira, a fumaça e a mulher rabugenta são as três coisas que espantam o homem de sua casa Ah, ouça-me Deus! Que bicho o mordeu, para o velho resmungar assim? E, como se não bastasse, você diz que nós mulheres escondemos os nossos defeitos até casarmos, mas depois nos mostramos como realmente somos... Um ditado desses só podia mesmo vir da boca de um asno! E ainda você diz que bois, burros, cavalos e cachorros são experimentados várias vezes antes da compra, e o mesmo se faz com tigelas, bacias, colheres, banquinhos e outras tralhas, assim como panelas, roupas e adereços... mas que ninguém experimenta as mulheres antes do casamento, – velho caduco e ignorante! – e, por isso, os seus defeitos só aparecem depois. Também diz que me aborreço quando você não elogia minha beleza, não fica de olhar pregado em meu rosto nem me chama de “minha senhora” em toda parte, não me presenteia quando faço aniversário nem me compra roupas bonitas, não trata bem minha criada, nem minha camareira em meu quarto, nem os parentes de meu pai e seus amigos... não é o que diz, velho tonel de mentiras? E, no entanto, fica aí injustamente desconfiado de Janekin, o nosso aprendiz, só porque tem cabelos cacheados, que brilham como o ouro fino, e é gentil comigo sempre que me vê. Pois saiba que não o quero, nem que amanhã você morra! (p. 107 – 108)

Ela aponta como os homens veem a mulher de modo equivocado e como ela está revoltada com isso. Quando finalmente chega ao conto, eis uma história bastante divertida. Ela conta sobre o relacionamento do Rei Arthur com uma velhinha. 

Após problemas com a rainha e suas damas, Arthur deveria descobrir e dizer a elas o que as mulheres mais desejam ou seria condenado à morte. E então ele encontra uma velhinha na rua e ela diz que pode contá-lo, desde que ele atenta a um desejo dela. Eles fazem um trato e vão até o castelo. O jovem diz:

“o que as mulheres mais ambicionam é mandar no marido, ou dominar o amante, impondo ao homem a sua sujeição. Ainda que me mate, digo que é esse o seu maior desejo. Vossa Majestade agora pode fazer comigo o que quiser: estou a seu dispor.”

E então a velha chama a atenção e diz que foi ela quem deu a resposta a ele e exige que seu desejo seja realizado: que ele se case com ela. O único problema, é que a aparência dela era extremamente “feia”. A cena dos dois na cama é a coisa mais engraçada durante o conto, principalmente porque muitas verdades são ditas pela velha, que inclusive guarda um grande segredo.

Gostei muito do conto da Mulher de Bath, principalmente por essa característica feminista que ele carrega, mesmo tendo sido escrito no Idade Média. Chaucer é um dos melhores escritores que já li e confesso que em alguns momentos é até difícil de acreditar que esses contos não foram escritos por um autor contemporâneo. 

O único problema que encontrei com a personagem da Mulher de Bath, é que ela era também um pouco femista, pois acreditava fortemente que para um casamento ter sucesso, a mulher é quem deve mandar, quando na verdade, nós sabemos muito bem que nem o homem e nem a mulher devem MANDAR em um relacionamento, e sim, CONSTRUÍ-LO juntos. Fora isso, essa mulher é incrível e um passo à frente de sua época, além de ter uma personalidade fortíssima. 

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