Perca-se na Avenida Insônia

sábado, julho 08, 2017


Olá, pessoas interessantes! Hoje venho divulgar um blog, no qual um grupo de amigos escrevem e publicam seus textos e poemas de todos os tipos. Não sei se todos eles são de Curitiba, o João...



O blog é o Avenida Insônia, o link perfeito para acessar quando se está naquelas noites de insônias intermináveis. Conheci o blog por meio de João Basso, que foi até o lançamento do meu livro com a minha ex-cunhada, pois ele era amigo dela. João era o tipo de pessoa que te cativa assim que te conhece, é o tipo de pessoa que carrega a energia da amizade consigo mesmo e está pronto para espalhá-la a qualquer momento.

João anotando o endereço do blog Avenida Insônia.

Eis então, algumas amostras dos poemas de João e de seus amigos, no Avenida Insônia:

Castelo e Ruínas (por Victor Sobolewski)

Penso que o que me falta (de vez em quando) é um pouco de inocência.

Se eu não fosse tão ciente de tudo, talvez já tivesse mais progresso. Hábitos e histórico me fizeram um homem sábio, mas os vícios não me dão espaço pro inteligente. Eu sei do provável, eu sei do difícil, sei do certo e sei do errado. Não faço nada, tento muito. Sou tudo, sou nada.

Sou grande, sou pequeno, sou o inocente em cima do muro.
Sou rico, sou pobre; sou camponês, sou nobre.
O chão de dinheiro, que forre. Sou ouro e o cobre.

E ciente de tudo, sei que é o progresso. Evolução mental, melhoria de palavras e novas roupas, velhos amigos e novas pessoas. Várias tentativas, poucos sucessos, seguido de filosofia e alguns retrocessos. 

Avanço e me canso, prossigo e me deito; suspiro e penso (a meu respeito)
Será que alcanço? Sorrio em meio ao que miro; tenso.

é singelo o dia, e a noite; puída.
ciente de você, ambição
meu castelo, minha ruína.

Viajor infantil (por Ayrtton Fonseca)

escreveu de Mercúrio até Netuno caminhando com essa bota de pano de acrobata
pulando de cometa em cometa: parou em Saturno. Correu pelo anel astronômico, feliz
sentou na borda sem medo de cair
com os olhos pretos surpreendidos, olhou:
a plêiade de estrelas brilhantes, únicas
impressionista algum saberia como pintar aquilo,
talvez Monet, mas desconfio da Belle Époque.
Caiu o último grão de areia da ampulheta:
de acaso a acaso o livre arbítrio abraçou o destino
o astronauta enxerga uma nuvem e curioso vai ver de perto:
puxado por aquela rotação, não se amedronta
abraça tudo aquilo, confia no ballet universal.
(sabe que se pensar muito, vai ver o infinito se esconder)
a poeira se junta e rotaciona, o hidrogênio intrínseco
dá um aceno saudoso,
por trás do capacete, um sorriso
vira estrela: é festa celeste.
Uma lágrima escorre no rosto do menino
mas levanta, porque sabe
que se não dançar, vai se atrasar
pois a música não cessa
e precisa dançar durante todo o disco: do vinil ao yottabyte
se quiser, um dia, ser astronauta também.

Desculpa nunca escrever sobre você (por Bárbara Tanaka)

Sabe, eu te vi crescer. Às vezes vou te buscar e você está sempre (sempre) lá, radiante, guardando os seus brinquedos na mochila e logo correndo para alcançar a minha mão. Você sorri e pergunta como foi o meu dia. Tenho internalizado já que você não entende e nem sequer se importa muito com a minha resposta, mas ainda assim faz questão de perguntar e eu faço questão de contar algum detalhe bobo porque sei que você vai rir. É como se tudo o que você enxergasse fosse de amplitude gigantesca, imensurável, astronômica. Está bem longe de qualquer compreensão de alcance teórico ou acadêmico. Nenhuma tese de pós-doutorado conseguiria chegar aos pés daquilo que você sente ao aprender a escrever uma palavra nova. É como ver o universo todo se expandindo, crescendo e você moldando as coisas de um jeito completamente novo. Juro que quero ser como você quando crescer. Quero resgatar a pureza no manuseio, o brilho nos olhos, a paixão e o amar só porque aquilo é vivo e vivemos o agora.

Meu Deus, eu tô vendo você crescer. Desculpa por nunca escrever sobre você. A gente só escreve quando a gente tá triste, porque quer transformar a tristeza em algo bonito. Você já é o que há de mais bonitinho, e eu não quero perder de ver isso nem por um segundo. Você cresce todos os dias e não consegue aceitar que um dia eu já fui do seu tamanho, e que daqui a pouco você vai ser bem maior do que eu. Às vezes acho que você já é. Eu tô vendo você crescer e eu sei que vou te perder, porque é aí que você vai se encontrar. Sei disso porque seus olhos enchem de lágrimas iguais aos meus. Você vai segurar a mão do mundo. E o mundo não poderia estar em melhores mãos. 

É, pequena, eu sei que você vai cuidar de tudo. Vai sim. Agora vai logo brincar, só mais um pouquinho, porque daqui a pouco é hora de dormir e amanhã o dia vai fazer sol.

Por favor, não me deixe só (por Giovana Anschau)

Por favor,
não me deixe só.
Sozinha
      com
  a
                  vizinha
     chata
                     reaça
que defende o genocídio,
sem saber.
Que carrega a suástica
no peito
sem saber.
Que simplesmente
não sabe qual passo dar.

Não me deixe só.
Sozinha,
em um emaranhado,
       sem Blues,
sem Jazzz,
                     sem você.


Não liga. (por João Basso)

Devia ser tão mais legal viver
Com o meu skate
Mas eu era tão
Pesado

Devia ser tão mais legal andar 
De carro
Mas eu era tão 
Pobre

Viajo em versos
Mas estou tão pesado 
Tão pobre

Quebrado, sem emoção 
Sem
Sentimento

E mais uma vez não me conformo com os versos anarquistas que quando postos à prova, sumiram.

Hoje sou uma imperfeição. Sem skate, sem carro. De bicicleta. E de novo deixo-me guiar até o limite do aceitável, esperando não cair para os lados.


Eu ainda vou arrancar meus olhos fora (por João Basso)

Meu Deus.
Eu procuro muitos cantos esguios e espacinhos para mostrar minha tristeza. Assim que surge a oportunidade, grito de uma forma que assusta, mas logo se dissipa no ar.
Meu Deus. 
Acordei tão estranho nessa manhã e tudo está tão simples que mesmo as coisas que deviam me desesperar estão tão suaves. Estou escondendo as palavras na esperança de que você as ache, de novo. 
E se por todo esse tempo fiz o que ela disse para ele não fazer? Acho que aguentei tanta porrada que agora que o mar está calmo, tenho medo dos monstros. É mentira, tudo o que dizem. Não está tudo bem. Nunca está.
Mas você quer que eu seja direto. Você quer mais de mim; e eu sou mais que isso.
Não estava brincando quando disse que estou conformado. Tenho muita preguiça de fazer acontecer. Meus textos estão todos sujos. Desculpa por não poder ajudar. 
O mago disse: "Descartem-me como descartam a teus lixos. A menor importância não darei. Minha função na terra está completa." E eu concordo com ele.
Olha onde cheguei. Fui longe, pra quem ia pular da janela. Queria tanto saber o que é que ocorre comigo. 

A manhã traz uma nova aurora 
E eu só consigo pensar em diversão momentânea 
Porque nada mais é como era antes 
E minhas frustrações parecem tão vagas

Ah.

Esse blog pode ser sobre todos nós (por João Basso)

Esse blog não é sobre você. 
É sobre nós e essa coisa que fica na nossa cabeça rodando nosso cérebro enquanto ficamos rastejando no mundo procurando respostas. 

Não é tão dramático assim, na verdade. Permita-me rir. Ha. 

Não sofro de insônia, mas sou muito fã de avenidas. Principalmente à noite. Lembro dos domingos que tardavam a demorar e da tristeza que sentia quando era hora de ir embora. No carro do meu pai voltávamos pra casa fofocando sobre nossa família enquanto eu me debruçava e esperava passar por aquela avenida cheia de luzes que pareciam nunca ter fim. 
Hoje tá tão fácil. Eu pego um ônibus e posso passar por aquela mesma avenida dia ou noite. Sozinho ou acompanhado. Triste ou feliz. 
E é esse o preço da liberdade e do amadurecimento; você os tem, mas não sabe o que fazer com eles. 
{
Eu li sobre você gostar de cheiros em ti
Me pergunto se estava se referindo a mim
}

"I lay awake and strap myself in the bed
With a bulletproof vest on and shoot myself in the head"

Eu acho esse verso tão divertido. Além de ser uma piada fantástica, é o que venho fazendo há muito tempo. Me mantendo seguro e sendo o responsável pela minha própria desgraça.

Eu tô me punindo mentalmente por alguma coisa. Tá difícil. 

Visitem o blog, vale a pena, nos momentos de insônia ou não, a Avenida sempre estará lá.


Em memória de João Basso.

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