Mês das Bruxas #5 - Um conto de horror, de Sara Muniz
sexta-feira, outubro 30, 2015
Para encerrar a semana especial de Halloween aqui no blog, achei mais do que justo escrever um conto de horror para vocês! Gente, é MUITO difícil escrever coisas que dão medo, sério. Leiam e me digam se conseguiram sentir medo em pelo menos alguma parte do conto, por favor! Boa leitura.
Sexta-feira.
Dormindo. Pais viajando a trabalho, de novo. Completamente sozinha. Uma noite
de verão, a lua iluminando o céu, estrelas a brilhar.
Despertei
sem motivo aparente, peguei o celular e vi que eram 3h00 da manhã. Alguns meses
atrás acabei por ler um artigo da internet que dizia que o horário em que
muitos espíritos vagam simultaneamente são 3h00 - 3h30 da manhã. Percebi estar
com as energias carregadas, provavelmente acordei bem no final de um dos ciclos
do sono. Liguei o wi-fi no celular e abri o Instagram, depois o Facebook,
joguei um joguinho sem graça e depois voltei a ver o Facebook. Enquanto meu
dedo passava rapidamente pela tela, passando a timeline, ouvi o barulho da
porta ao lado batendo.
O
cômodo ao lado do meu quarto era o quarto dos meus pais. Não pude ver a porta
batendo, mas pude ouvir perfeitamente, uma vez que a porta do meu quarto estava
entreaberta. Arregalei os olhos, senti um frio correr a espinha rapidamente e
meu coração acelerou assustadoramente. Tentei conter a respiração, acho que foi
como um reflexo para não fazer barulho. Senti uma sensação de desespero que
parecia vir do estômago, mas nessas horas a gente nunca sabe ao certo de onde vêm
esses sentimentos estranhos na hora do desespero.
Levantei
da cama cuidadosamente, coloquei o celular silenciosamente de volta no criado
mudo e fui lentamente até o interruptor ao lado da minha porta. Tentei não
olhar pela parte aberta da porta, acendi a luz e abri a porta quase que
simultaneamente.
Não
havia nada. A porta do quarto dos meus pais estava fechada. O corredor agora
ela iluminado apenas pela luz que vinha do meu quarto. Eu continuava com medo,
obviamente. Acendi, então, a luz do corredor. Chequei o quarto dos meus pais,
chequei o banheiro, desci as escadas, chequei a sala, a cozinha e o escritório.
Fui até a janela, ascendi a luz de fora e não vi nada na varanda ou no
quintal.
Apaguei
as luzes da casa e voltei ao meu quarto. Deitei-me novamente e me cobri até a
cabeça. Fechei os olhos com força, queria voltar a dormir. Mas, outro som me
trouxe desespero mais uma vez. Agora, parecia o barulho de correntes pesadas
caindo ao chão, um chão revestido por cerâmica. No banheiro. Muito próximo ao
meu quarto.
Repeti
o ritual; acendi a luz, abri a porta, chequei o quarto dos meus pais e o
corredor. A porta do banheiro estava fechada. "Droga! porque eu fechei a
porta?", pensei, com muito medo de ter de abri-la e acabar me deparando
com um demônio de sete cabeças. Andei em passos silenciosos até a porta do
banheiro, comecei abrindo apenas uma pequena fresta, até que meu braço passasse
pelo pequeno espaço e conseguisse alcançar e acionar o interruptor. Luzes
acesas, eu já podia abrir a porta.
Nada.
Nem correntes, nem sujeira de ferrugem no chão, nem sangue na pia, nem membros
no vaso sanitário. Ralo do chuveiro excepcionalmente limpo. Comecei a achar que
estava ficando louca, até que a torneira da pia começou a liberar água sozinha.
Parei de respirar, então o chuveiro ligou sozinho e a descarga foi dada
sozinha. Gritei, obviamente. Por ter parado de respirar segundos antes, meus
músculos agora estavam sem oxigênio para me proporcionar uma corrida
resistente, senti o corpo pesar e corri mesmo assim. Eu não conseguia respirar
direito. Ao chegar à escada, olhei para o banheiro mais uma vez. O barulho do
chuveiro e da torneira pararam. Minha respiração agora era constante, mas era
falha. Eu tremia demais, quis chorar. Então, rapidamente a luz do banheiro se
apagou e a porta se fechou com um baque.
Desci
as escadas gritando, abri a porta e sai no quintal. Corri para a rua, nenhum
vizinho acordado, nenhum carro passando, somente os postes iluminando o asfalto
escuro. Eu não sabia o que fazer, não podia voltar para dentro de casa, não
tinha um telefone para ligar para a polícia ou para os meus pais, tinha medo de
correr sem rumo pela rua e ser pega. Eu não conseguia pensar em nada, eu mal
respirava e nem notava isso. Eu estava desesperada. Uma sensação estranha vinha
do estômago novamente, minha cabeça começou a latejar, meu couro cabeludo
começou a coçar, senti um frio que não existia. Eu sentia minha espinha pulsar
e meus músculos ficarem rígidos, prontos para fugir a qualquer momento e,
provavelmente, falhar.
Avistei
uma luz no final da rua, andei devagar até lá, olhando para todos os lados o
tempo todo - inclusive para trás -. Ao chegar, percebi que era um posto de
gasolina. Nunca havia notado aquele estabelecimento ali, podia jurar que ele
nunca existiu, eu já morava naquele bairro há anos. Um aviso dizia que ele
ficava aberto 24 horas por dia. Pude ver pelo lado de fora, que lá dentro
prateleiras estavam cheias de mantimentos e uma música tocava. Abri a porta de
vidro, um sino tocou com a minha entrada.
—
Olá? — perguntei, sem obter resposta. — Tem alguém aqui? Olá? Eu preciso de
ajuda, eu...
Um
barulho de caixa caindo veio do caixa. Aproximei-me do balcão e não havia
ninguém atendendo. Desespero de novo. Sai da loja e procurei um telefone por
ali, não tinha nenhum. De repente, um senhor gordo surge de dentro da loja da
qual eu acabara de sair e da qual não havia ninguém.
—
Bom dia, garotinha. O que faz aqui tão cedo? — perguntou ele, polindo uma
espécie de ferramenta que conserta carros que estava imunda de graxa.
—
Na verdade, eu estava tendo problemas em casa... — respondi.
—
Que tipo de problema? Onde estão os seus pais?
—
Eles... — hesitei. — Saíram. Ouvi barulhos estranhos e depois coisas começaram
a funcionar sozinhas, acho que tem algum tipo de espírito lá.
Ele
riu. Quase gargalhou.
—
Tem certeza? Você só está com muito medo. Crianças não deveriam ficar sozinhas.
Você precisa voltar para casa e ligar para os seus pais, não acha?
—
Não é melhor ligar para a polícia primeiro? — perguntei confusa.
—
Não, não. Sugiro que ligue para os seus pais primeiro, deixe que eles liguem
para a polícia. Agora vá andando, tenho muito trabalho por aqui. — Disse ele,
empurrando-me pelas costas.
Voltei
para casa, o medo aumentou ainda mais. Abri a porta da sala, liguei as
luzes.
Nada.
Tranquei
a porta da frente e subi as escadas. Liguei a luz do corredor e corri para o
meu quarto. Acendi a luz e tranquei a porta. Peguei o celular, estava sem sinal
algum!
—
Conseguiu ligar para os seus pais?
Era
o homem do posto de gasolina, como ele tinha entrado na minha casa e, sobretudo
no meu quarto, quando a porta continuava muito bem trancada logo atrás dele?!
—
Como você entrou aqui?! — gritei.
—
Espíritos podem atravessar paredes, não sabia? — disse ele, dando um leve
sorriso.
Olhei
para ele conforme se aproximava de mim, atônita, em choque absoluto: sem ação
nenhuma.
Ele
agarrou meu cabelo, me jogou no chão.
...
Acordei
de manhã. Caída da cama e com o cabelo preso na gaveta do criado mudo. Mais um
pesadelo e mais uma noite sozinha mais tarde.
E aí, gostaram do conto? Sentiram medo em algum momento? Comenta aí!
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